Tapetes de Arraiolos

T
apetes de Arraiolos é a designação que se dá aos bordados a lã de diversas cores sobre tela de linho, estopa, grossaria ou canhamaço.


O ponto cruzado oblíquo foi adotado pela decoração arraiolense – a sua execução obedece ao processo de fios contados atapetando inteiramente o fundo do campo e da barra. O ponto cruzado aparece na Península desde o século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características muçulmanas (Espanha recorre à seda, Portugal à lã).

Embora sendo um ponto já praticado por povos eslavos, a sua divulgação em território ibérico deve-se aos Mouros. A laboração mourisca está documentada em Lisboa desde inícios do século XV e, embora se desconheça o género de tapetes bordados, tudo leva a crer que fossem alcatifas de felpa do tipo hispano-mourisco.

Apesar da técnica do bordado de Arraiolos ser conhecida na Península desde o século XII, não podemos atribuir com segurança a sua origem aos tapetes portugueses dos século XV e XVI.

O ponto é cruzado oblíquo por ser composto por duas meias cruzes, uma das quais tem o dobro do comprimento da outra. Essas duas meias cruzes, que formam um ponto de Arraiolos completo, fazem-se ambas dentro da mesma altura do tecido.

Essa altura abrange, geralmente, 2 fios do tecido, no sentido da altura deste. Portanto, a meia cruz mais comprida e a meia cruz menor abrangem, ambas, 2 fios de altura do tecido mas, relativamente ao comprimento do ponto, a meia cruz menor abrange 2 fios e a meia cruz comprida abrange o dobro do comprimento, ou seja, 4 fios.


O resultado do cruzamento das duas meias cruzes é a obtenção de um ponto cruzado oblíquo, ou seja, alongado no sentido do seu comprimento, alongamento esse que é feito pela meia cruz comprida. 

O Bordado de Arraiolos executa-se, geralmente, em três fases que são: 1. Bordar a armação 2. Fazer a matização 3. Preencher os fundos

A armação do bordado é o conjunto dos contornos dos motivos que estão indicados no desenho do tapete. Portanto, principia-se a decoração de um tapete começando por bordar sobre a linhagem os pontos que no desenho indicam os contornos e apenas os contornos dos motivos que constituem a decoração. Quando todos os referidos contornos estão bordados, diz-se que está pronta a armação do tapete.

A 2ª fase do trabalho é a matização dos motivos. Com lãs de cores diferentes da que foi empregada para bordar a armação, preenchem-se os motivos ou desenhos que já foram contornados. Quando todos os motivos e desenhos estiverem bordados com todas as suas cores, está completa a matização.

A terceira fase de trabalho é o preenchimento dos fundos que estão em volta dos motivos e desenhos. Para este trabalho emprega-se a lã da cor ou cores que, previamente, foram escolhidas para os fundos.


Arraiolos terá sido um dos locais onde se estabeleceram algumas das famílias mouriscas expulsas por D. Manuel I em 1496. Localizaram-se na região do Alentejo, onde deitara raízes a influência do Islão, e, sob a aparência da recente conversão, apoiaram-se nos mestres que tradicionalmente exerciam.

Iniciaram uma manufatura que usava uma técnica posteriormente denominada de ponto de Arraiolos, cuja referência mais antiga data de 1699. No decorrer da primeira metade do século XVIII, Arraiolos já fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado.

Os tapetes eram habitualmente utilizados no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).

História

Século XVII: 1.º período

A confeção dos tapetes de Arraiolos ter-se-á iniciado provavelmente no começo deste período, sendo fruto da curiosidade de artesãs isoladas, ou do trabalho conventual alentejano. Trata-se, porém, de uma hipótese não confirmada até ao presente. Possuíam cores muito bonitas, bem combinadas e em grande número. Os contornos eram bordados a ponto de pé de flor sobre serapilheira.

Eram cheios a ponto de Arraiolos mais ou menos perfeito. A barra era feita sem cantos, pois estes eram feitos num quadrado. A franja era feita com agulhas de croché. Nesta época executavam-se tapetes «eruditos» com desenhos preconcebidos muito perfeitos e outros «populares», que eram feitos de forma livre.

A Tapeçaria portuguesa bordada à mão, com o nome de Bordado de Arraiolos, só data oficialmente do princípio do século XVII, mas é permitido supor que já se praticasse muito anteriormente, visto que o ponto cruzado oblíquo (atualmente conhecido em todo o mundo por ponto de Arraiolos) também já se praticava na Península Ibérica desde o século XII.

Exemplo de tapete com contorno bordado a ponto de pé de flor:

Século XVII: 2.º período

Os tapetes desta época baseiam-se em tapetes asiáticos (persas, caucasianos, turcos) ou inspirados nos motivos do manuelino. As cores são magníficas, alegres e muito bem combinadas. Os de inspiração persa caracterizam-se por motivos de animais, arabescos muito elegantes presos uns aos outros com sarnentos, medalhões repetitivos, motivos manuelinos com rosetas nós estilizados e cordas. As franjas passaram a ser feitas em pequenos teares. Os contornos começam a deixar de ser em ponto de pé de flor, passando a ser em ponto de arraiolos.

Século XVIII: 1.º período

Neste período os tapetes de Arraiolos, embora fossem de carácter erudito e continuassem a ser executados com motivos orientais como anteriormente, deixam de ser feitos em cores alegres passando a cores mortas, inexplicavelmente, pois não se identificam motivos para isso. Os cantos são a direito.

Século XVIII: 2.º período

A indústria caseira dos tapetes de Arraiolos tornou-se florescente dado o elevado número de peças que então foram feitas. Os motivos orientais desapareceram quase por completo cedendo lugar aos motivos florais, vasos com asas, bonecas com penteados altos (como se usavam nesse tempo) e laços à Luís XVI.

Século XVIII: 3.º período

Após o incremento verificado anteriormente começou a decadência desta indústria artesanal.

Desapareceram totalmente os motivos orientais e as composições pitorescas baseadas na fauna e na flora regional e festas folclóricas, para darem lugar a desenhos simples e repetidos, sobre fundos muito pobres e de cores mortas.


Século XIX

Neste século a indústria dos tapetes de Arraiolos desapareceu quase completamente, embora se tenha executado um restrito número de tapetes feitos por artesãs amadoras isoladas, copiados, em geral, de exemplares feitos nos séculos anteriores. Esta quase extinção deveu-se ao surgimento da era industrial, pois devem ter começado a aparecer tapetes com motivos mais modernos e mais baratos. No entanto os que se manufaturaram eram originais e não menos belos. Tinham poucos desenhos e muito fundo, mas nem por isso deixaram de ser atraentes.

Século XX

Durante os primeiros três quartos deste século a manufatura dos tapetes de Arraiolos como que renasceu num novo impulso. Diversas artesãs, sobretudo donas de casa mais ilustradas, espalhadas pelo país, executaram cópias de tapetes dos séculos XVII, XVIII e XIX. Estas senhoras iam aos museus tirar os riscos.

Por esta razão ficou a ideia de que estes eram elaborados com cores esbatidas uma vez que os tapetes antigos estavam já desbotados pelo direito devido à antiguidade. Pelo avesso ainda tinham as cores originais (ver séc XVII). No último quartel deste século os tapetes tomaram novas expressões menos ortodoxas.

Tapetes de Arraiolos Tapetes de Arraiolos Reviewed by Marta Rainier on abril 19, 2019 Rating: 5

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