Lenda das Obras de Santa Engrácia

S
imão Pires, um cristão novo, cavalgava todos os dias até ao Convento de Santa Clara para se encontrar às escondidas com Violante. 


A jovem tinha sido feita noviça à força por vontade do seu pai fidalgo que não estava de acordo com o seu amor. 

Um dia, Simão pediu à sua amada para fugir com ele, dando-lhe um dia para decidir. No dia seguinte, Simão foi acordado pelos homens do rei que o vinham prender acusando-o do roubo das relíquias da igreja de Santa Engrácia que ficava perto do convento. 

Para não prejudicar Violante, Simão não revelou a razão porque tinha sido visto no local. Apesar de invocar a sua inocência foi preso e condenado à morte na fogueira que se realizaria junto da nova igreja de Santa Engrácia, cujas obras já tinham começado. 

Quando as labaredas envolveram o corpo de Simão, este gritou que era tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem. 

Os anos passaram e a freira Violante foi um dia chamada a assistir aos últimos momentos de um ladrão que tinha pedido a sua presença. 


Revelou-lhe que tinha sido ele o ladrão das relíquias e sabendo da relação secreta dos jovens, tinha incriminado Simão. Pedia-lhe agora o perdão que Violante lhe concedeu. 

O edifício da Igreja de Santa Engrácia (atualmente Panteão Nacional) em estilo barroco demorou 400 anos a ser construído.


A igreja foi iniciada no ano de 1568, no local de um antigo templo de meados do séc. XII, por ordem de D. Maria de Portugal, filha de D. Manuel I, para receber o relicário de Santa Engrácia, tendo sido apenas concluída quatrocentos anos mais tarde, já no nos anos 60 do séc. XX, por ordem de Salazar, não já como igreja, mas como Panteão Nacional, onde repousam as figuras notáveis da História de Portugal, como Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, Sidónio Pais, Humberto Delgado e Amália Rodrigues.


Quem era Santa Engrácia?

A 16 de abril do ano de 303 (ou 304) morria na cidade de Saragoça a jovem Engrácia, filha do governador romano de Bracara-Augusta (Braga).

Engrácia converteu-se à fé cristã e recusou o casamento com o comandante das legiões romanas na fronteira da Gália, na altura estacionadas em Saragoça, insurgindo-se contra as perseguições movidas aos cristãos. 

A atitude da jovem valeu-lhe a condenação a terríveis martírios, por parte do governador da província, o cruel Daciano. Acabou por falecer com um prego cravado na testa pelas mãos do próprio Daciano. 

Este martírio levaria a que a Igreja, em 592, no II Concílio de Saragoça a considerasse Santa, num momento em que o seu culto já se tinha espalhado por toda a Península Ibérica. 

A Infanta D. Maria (1521-1577), última filha do rei D. Manuel I, sensível às artes e dotada de uma cultura invulgar, era devota de Santa Engrácia e patrocinou a construção da primeira igreja paroquial dedicada a esta mártir de origem lusitana. Depois de inúmeras vicissitudes e centenas de anos de construção, a igreja de Santa Engrácia foi escolhida para Panteão Nacional.


Embora nunca chegasse a abrir ao culto, conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da nave, animada pela decoração de mármores coloridos, característica da arquitetura barroca portuguesa. 

Elemento referencial no perfil da cidade e oferecendo pontos de vista privilegiados sobre a zona histórica da cidade e sobre o rio Tejo, está classificado como Monumento Nacional.

Entretanto, um facto singular acontecia: as obras da igreja iniciadas à época da execução de Simão pareciam nunca mais ter fim. De tal forma que o povo se habitou a comparar tudo aquilo que não mais acaba às obras de Santa Engrácia.


Lenda das Obras de Santa Engrácia Lenda das Obras de Santa Engrácia Reviewed by Marta Rainier on maio 05, 2019 Rating: 5

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